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11 novembro 2019

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Os Carpinteiros

11 novembro 2019 0 Comentários
HOUVE DEZENAS DE CARPINTEIROS EM SETE SÉCULOS MONTALVANENSES.


Conheci bem um carpinteiro de Montalvão. No apogeu dos Ofícios em Montalvão, entre os anos 30 e 60, houve o Ti Zé Leandro (depois a carpintaria passou a taberna) da rua de São Pedro, o Ti Serrote na rua da Barca, o Ti Zé Caratana que teve "poiso" mais duradoiro na rua das Almas e ainda o Ti Juan Papagaio no início (de quem vem de baixo) ou final (de quem vem de cima) na rua de São João. 

(clicar em cima da imagem para obter melhor visualização)


O Ti Zé Caratana (sem ligações familiares ao ofício) teve por Mestre o Ti Zé Leandro. Depois foi Mestre do Ti Juan Papagaio (que foi mais Marceneiro que Carpinteiro, embora fosse ajuda preciosa quando fazia falta)
Num povoado como Montalvão, sempre abaixo dos três mil habitantes, eram necessários dois carpinteiros com aprendizes (ajudantes, geralmente os filhos). Havia trabalho, mas não tanto para permitir a sobrevivência de mais de uma ou duas famílias. Até porque havia ainda os Marceneiros. Os carpinteiros faziam os veículos de tração animal (carroças, carros e carretas; com rodas ferradas com auxílio dos ferreiros), as escadas, as cangas, as charruas e arados, os trilhos, os cabos de enxadas, sacholas, pás, gadanhas, foices, forquilhas e demais utensílios para o "cavanço", as angarelas, ajudavam a travar os sobrados, um vasto número de artefactos fundamentais no Mundo Rural. E depois tinham de ir fazendo as necessárias recuperações e arranjos devido aos estragos causados pelo uso prolongado.

O Ti Zé Caratana com carpintaria no antigo lagar de azeite da rua das Almas era um artista com genialidade.



Era pau para toda a obra. Escadas, portas, postigos e janelas.
Carroças, carretas e carros.
Ferrolhos, portões e trincos.
Mil e um utensílios que o tempo, o progresso e o abandono do povoado fez criar teias de aranha e ninhos de pássaro.


Pelo chiar do rodado sabia de quem era a carroça, carro ou carreta pois das mãos dele saíram com esmero.


Só pela sombra ao passarem nas costas de alguém umas escadas para colher azeitona sabia quando as tinha feito.



E piões, trinchas e pincéis. Foices, marretas e estacas. Serradura, lascas ou cavacas. 



E aquele trilho com "dentes" de madeira para não riscar as lajes da eira?



Cangas, arados, charruas e varapaus. Tudo saiu daquelas mãos de ouro preciosas a moldar madeira como um pianista a sublimar notas num piano.  



Sobrados, escadarias, traves e telhados. Coberturas ou caixas. Caixotes ou caixinhas.



Machados, serras, martelos, facas e enxadas ou sacholas ou gadanhas. Tudo lhe passava pelo engenho das mãos e invenção do momento.



Sempre com uma causa. Uma vez estava a fazer umas escadas e de repente atirou-as para o fundo da carpintaria dizendo. «Ora esta! Quanto mais escadas faço para os outros subirem mais eu desço que estas pernas já não conseguem andar o que andaram».



Conheci bem este carpinteiro. Abençoadas horas que passei com ele. Cada uma valia por meia dúzia.


NOTA: Fotografias a preto-e-branco de Artur Pastor

Próxima "paragem": Os Alfaiates 
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