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16 outubro 2019

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Os Agricultores e Os Artesãos (II)

16 outubro 2019 0 Comentários
DEPOIS DO CICLO DA AGRICULTURA - FALTARÁ ESCREVER ACERCA DOS LAVRADORES E DO PROLETARIADO RURAL, BEM COMO DAS QUESTÕES AGRÁRIAS - HÁ QUE FAZER REFERÊNCIA AOS OFÍCIOS.



Montalvão como uma das maiores povoações a sul do rio Tejo era auto-suficiente (ou quase, pois sempre havia as três feiras anuais em Nisa) permitindo sobreviver uma vida com muitos montalvanenses durante séculos a nunca saírem dos limites da freguesia.

Os artesãos
Só era possível isso ocorrer - uma economia baseada nos bens existentes na freguesia - pelo facto de se explorar um vasto território agrícola e os artesãos fabricarem, venderem e trocarem bens feitos por eles suprindo as necessidades uns dos outros, ou seja, davam alguma qualidade de vida aos montalvanenses.

Foi assim durante séculos
Ainda assisti aos últimos artesãos de Montalvão. Ainda os vi trabalhar. Quantos "mandados" não fiz a casa deles a pedido das minhas avós. Até passar pelas tabernas onde poucos homens montalvanenses não abancavam umas boas horas por dia. Vai lá chamá-los, diziam as esposas!

Por muito que vá tentar escrever acerca de documentos que consultei (principalmente para se publicarem dados demográficos e de qualidade da habitação nos Censos)
Com destaque para o de 1950 - que permite saber muito de Montalvão - seria injusto tornar a divulgação impessoal e factual. Era estar a trair a minha formação em criança e início de adolescência em que sempre me senti acarinhado, por todos, sem exceção: dos lojistas, aos barbeiros (no meu caso, corte de cabelo), João Belo Lucas (Pêpê), Zé Fidalgo e gente dos «Sete Ofícios». 

De Lisboa a Montalvão
Entre os Verões de 1968 e o de 1977 foram dez anos consecutivos, praticamente sempre entre o dia 13 de junho e o dia 27 ou 28 de setembro. Mais algumas idas pelo Natal, Carnaval e Páscoa. Enquanto em Lisboa era tudo mais impessoal embora vivendo entre bairros populares (Graça, Alfama, Mouraria, Bairro Alto e Bica) em Montalvão regressava-se a uma espécie de Eden. Um jardim de afetos. Lembro-me de nas lojas as esposas perguntarem aos balconistas - Ti chequim da Tróia, senhor Falcão e senhor Jaquim: «Quem é o cachôpo (rapaz) que está grave (roupas à moda de Lisboa)?». «É o neto do Ti ... ou da Xá ...» - respondiam. Estava apresentado pelo lado dos avôs ou avós! Garantia de consideração mútua.

Muito do que sou
Fiquei a dever a todos eles, pois indo por lá apenas três meses por ano, respeitavam-me mesmo sendo um miúdo e eu sempre retribui (penso que nunca falhei) com respeito por quem tinha estima por um rapaz pacato que apenas devia ser para eles muito curioso pois tenho estórias com todos eles e recordo-me de algumas como se fossem hoje. Talvez por não ser uma convivência diária onde é sempre possível haver desavenças mas apenas de ano a ano. Felizmente só recordo estórias engraçadas com todos eles. Principalmente com os três lojistas e os dois alfaiates, o Ti Zé Maria e o Ti Chico. Mas também dos dois cafés, o Senhor João Pereira (partiu muito cedo desta vida e da Vila) com os matraquilhos e o seu reboque de trator implacável que corriam Pé da Serra, Salavessa e Póvoa à cata das Festas e o Café Belo, o do Ti Tomás que tocava no sopro, em deleite, na Praça de Touros: «Toocaaaa a aaggarrrar». Eu ouvia letras saídas da sua corneta que devia ter magia. Ainda o Ti Domingos Ferrador ou o Ti João Henriques da Xá Hermína e da camioneta Bedford que rasava as casas na rua do Arneiro marcando as paredes para a eternidade. Até o señor Fabião, em Casalinho, por ser «Outro Mundo» o do "pirex". Nem em Lisboa se comprava tudo em embalagens já calibradas, em peso (quilo) ou capacidade (litro)! Nunca me esqueci de algumas delas e por vezes rio-me para mim mesmo quando penso nelas.

Era feliz e não sabia...

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