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12 agosto 2019

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O Último Soldado

12 agosto 2019 1 Comentários

Há precisamente cem anos chegou a Portugal o último dos montalvanenses (de freguesia pois nasceu na Salavessa) que combateu na Grande Guerra: Símplicio Valente.



NOTA: Este texto é uma homenagem a todos os que foram obrigados a participar em guerras inúteis. Todas as guerras são inúteis e ridículas. É que quem as inventa, cria, implementa, desenvolve e planeia, não participa nelas. Manda os inocentes participar e morrer. Assim é fácil ser herói à custa do sacrifício de quem nada pode fazer para nelas não participar. É obrigado a fazê-las, a «ir à guerra». Participa para matar evitando ser morto. Não participando é mandado prender pelos que as fazem e executado por deserção.



Em cima, a imagem "limpa" e garbosa que nos impingem da guerra. Em baixo, as imagens reais que nos oferecem e as que escondem. Morte de inocentes que nunca são heróis. São obrigados a ser cobardes que matam seres iguais para não serem mortos. Até podem ter sido grandes amigos antes de se iniciarem os conflitos e serem mobilizados, que os «mandantes de guerras» conseguem à força separar em campos antagónicos.


Entre a "pose para a fotografia" numa trincheira em França e a morte poucos minutos depois era uma questão de sorte e azar. Estar no sítio certo à hora certa ou estar no sítio errado à hora errada!




A participação na Grande Guerra contada por quem a estudou (Luís Almeida Martins) num texto publicado na revista «Visão História» n.º 53, em junho de 2019, nas páginas 86 e 87)
«Se a transformação de Portugal em país beligerante não implicava forçosamente que soldados nossos fossem combater para uma das frentes principais da guerra (coisa que, como já vimos, os próprios britânicos não desejavam) a verdade é que os magalas de farda cinzenta (na gíria, «caixões de chumbo») seguiriam mesmo para a frente ocidental. Como é habitual em situações de guerra, o governo do Partido Democrático seria logo sucedido por um de «União Sagrada» liderado pelo «evolucionista» António José de Almeida. Começaram assim a ser mobilizados jovens camponeses de norte a sul do País. A maioria eram analfabetos, nunca tinham saído da sua aldeia e desconheciam os motivos porque iriam combater. À transformação destes homens em soldados prováveis chamou-se «Milagre de Tancos». O Corpo Expedicionário Português (CEP) assim constituído chegaria a englobar 55 mil homens. Mas terá mesmo havido o tal «milagre»?
Quando, em janeiro de 1917, os primeiros «folgadinhos» (gíria irónica para os magalas) desembarcaram em França, rapidamente chegaram à conclusão de que qualquer semelhança entre a «guerra de Tancos» e a verdadeira não passava de coincidência. E os ingleses descobriram, com espanto, que os seus aliados meridionais nunca tinham visto uma metralhadora Lewis, a arma que mais iriam usar nas trincheiras. Foi por isso necessário dar-lhes outra vez instrução.
No fatídico dia 9 de abril de 1918, o mito do «Milagre de Tancos» ruiu definitivamente, quando o CEP foi destroçado durante a ofensiva que os alemães batizaram de Operação Georgette e a que os portugueses chamaram Batalha de La Lys.» O CEP mobilizou 55 083 homens para a Flandres sendo o número e baixas de 7 384 entre mortos (2 160) e feridos (5224) além de 6 678 prisioneiros, alguns deles morreriam. Outros morreriam em Portugal como resultados de feridas e sequelas. Só em «La Lys» foram mortos, feridos e feitos prisioneiros, 6 983 militares. Uma razia.


«Os restos esfarrapados do CEP - ou seja os lãnzudos (gíria para soldados) que tinham tido a «sorte» de não serem capturados pelos «boches» (gíria para soldados alemães) - tentaram sorrir ao infortúnio com boa cara, mas era difícil. Integrados em unidades britânicas, arrastaram-se pelas trincheiras e pelas estradas enlameadas durante sete meses, até ao fim do conflito, de «muchingona» (machine gun) em punho, convivendo monossolabicamente com os «bifes» (de BEF, British Expeditionary Force), abrindo latas de um novo «fiel amigo» chamado corned beef, treinando expressões curiosas como all right, apurando a técnica do «cavanço» (enfiar-se pelo chão era muitas vezes uma maneira de fugir ao problema no meio dos bombardeamentos, e a palavra pegou), aturando «fretes» (tiros de artilharia» aos alemães e sonhando com a «retangueira», ou seja, a retaguarda. Quando eram forçados pelos ingleses a saltar da «Travesssa do Matadouro» (a trincheira) e a fazer raides na terra de ninguém (entre duas trincheiras inimigas) iam à «Avenida Afonso Costa» (Chefe de Governo). De regresso a Portugal, vulgarizariam as expressões «camones» (de come on) e «bifes» (de BEF, como vimos) para designar os ingleses.»



Comentando o texto anterior percebe-se que para fazer uma guerra de trincheiras os políticos portugueses fazendo entrar à pressa soldados recorreram ao interior do País Rural, a quem sabia manejar enxadas, pás e picaretas. Movimentar terras e suster taludes. Olhem os alfacinhas ou tripeiros e outros citadinos a fazê-lo. Em vez de morrerem gaseados ou baleados sufocavam soterrados nas valas que faziam em vez de serem protegidos pelas trincheiras. Lisboetas e portuenses a cavarem? Cavavam era da guerra para fora! Não foi por acaso que o CEP - Corpo Expedicionário Português também ficou conhecido por "Carneiros Exportados de Portugal".

As condições de transporte dos magalas portugueses foi deplorável. Por pouco não ocorreram tragédias e os soldados chegavam tão "moídos" depois de uma viagem de três dias (em vez das três horas para que os barcos estavam preparados) que tinham de ficar a recuperar em aldeias francesas antes de entrarem na guerra


















MONTALVÃO/SALAVESSA

A lista é extensa mas está disponível.


Símplicio Valente nasceu em 6 de fevereiro de 1893, pelas três horas da manhã, na Salavessa, partindo para França, com 24 anos, em 24 de Março de 1917. Depois de ferido em 3 de novembro de 1917 foi internado, seguindo-se outros períodos de internamento chegando a Portugal, nove meses depois do armistício (11 de novembro de 1918). Chegou a Lisboa, em 12 de agosto de 1919, há precisamente um século. 




Entre todos - pelo que se sabe - tombou em França apenas um dos montalvanenses (de freguesia pois nasceu na Salavessa) que combateram na Grande Guerra, Joaquim Carrilho nascido em 24 de março de 1895, pelas três horas da manhã. Partiu para França em 20 de janeiro de 1917, com 21 anos e foi morto em 8 de março de 1918, a 16 dias de completar 22 anos. Uma tragédia para a Salavessa e toda a freguesia de Montalvão. Mas principalmente para o seu pai (Manuel Louro Pires) e mãe (Maria de Mattos).



Foi sepultado no cemitério local de "La Touret". 



E depois do conflito terminar, trasladado para o «Cemitério Português», em Richebourg (França) onde estão centenas de soldados - as placas têm nome mas em 1917 e 1918 era, para muitos, impossível saber a quem correspondiam os cadáveres - que nunca regressarão à Pátria pela qual nem combateram pois o território português, desde as Invasões Francesas, no início do século XIX, nunca foi atacado por quem (País) quer que seja.



Entre muitos artistas que publicaram obras, em todas as Artes, contra o que é a guerra, qualquer guerra, avulta esta magnífica pintura "A Face da Guerra", de Salvador Dali.


A homenagem deste blogue a todos os que morreram - de todos os países, etnias e desde sempre, desde a pré-história - em todos as guerras, pois todas elas foram, são e serão estúpidas e idiotas.




NOTA FINAL (ACERCA DE EQUÍVOCOS):
Ao ler o pequeno (96 páginas) mas excelente livro acerca dos combatentes da freguesia de Montalvão na Grande Guerra há uma afirmação intrigante mas que tanto pode ser verdadeira como estar equivocada.



A afirmação está escrita entre as páginas 21 e 22 que se publicam:



É "estranho" que Martins Barata, em 1969, não soubesse que tinha morrido um soldado nascido na Salavessa quando no início dos Anos 70 lembro-me dos "veteranos da aldeia" que se sentavam no escalão da Igreja de Misericórdia dizerem precisamente isso. De todos houve um da Salavessa que nunca regressou, ficando com sepultura em França. Se sabiam isso em 1972 ou 1973 como não se sabia em 1969?

Martins Barata escreveu, de facto, isso, como se comprova (se tal fosse necessário) pois o livro atrás citado seria suficiente.



A dúvida é a que realidade estaria ele a referir-se. Aos soldados da freguesia ou apenas aos de Montalvão? Mais se adensa quando no livro que serve de base para fazer o texto de hoje há inexactidão quanto ao nascimento de alguns dos soldados como se prova. Quer o infortunado Joaquim Carrilho, que o último a chegar, e que neste texto se assinala o centenário dessa efeméride, não são naturais de Montalvão mas da Salavessa como comprovam os assentos de da paróquia (batizados em Montalvão mas com os pais a residirem na Salavessa):







Quando no citado livro há fichas de soldados corretas:


Manoel Matias nasceu de facto na Salavessa (tal como Joaquim Carrilho e Simplício Valente).





José d'Albuquerque nasceu na rua da Costa (tudo indica), em Montalvão



Se Martins Barata (como acredito) se referia a que nenhum montalvanense morreu na Grande Guerra estava correto. Se era uma referência aos soldados de toda a freguesia (o que não acredito pois até nos Anos 70 se falava que um da Salavessa ficara em França) estava equivocado.
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