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04 maio 2020

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Ciclo do Sobreiro III

04 maio 2020 0 Comentários
O SOBREIRO ERA A ÁRVORE-VIRTUOSA DOS MONTALVANENSES.



Planta magnífica esteve no imaginário dos montalvanenses durante séculos. 




Chegou ao território atual da freguesia de Montalvão muito antes deste existir como povoado - até mesmo haver atividade pré-histórica no território da atual freguesia - pois é uma espécie autóctone (natural deste clima e solos desde que há flora no Planeta). 


Adaptação do portal "Brigada da Floresta" (clicar) e "Guia Ilustrado de 25 árvores de Lisboa" (clicar)

Com a actividade humana foi ocupando a maior parte dos terrenos da freguesia longe do povoado substituído por oliveiras/olivais nas propriedades junto de Montalvão. Entre tapadas e herdades o sobreiro é a Árvore-Rei. Se há mais exemplares de oliveiras - estas podem coexistir juntas, estão alinhadas e mais próximo umas das outras fazendo dos olivais núcleos contínuos - o Montado ocupa vastas áreas com os sobreiros dispersos, afastados mas "espraiando-se" por inúmeros quilómetros quadrados. 






O Sobreiro é tão virtuoso que tudo dele se aproveita.

1. A sua frondosa sombra e proteção todo o ano destaque para a frescura do Verão, pois a folha é persistente renovando-se pela idade e não pela estação do ano;


2. A casca (cortiça) retirada a cada nove anos, no Verão, depois do sobreiro atingir os 25 anos. Boa fonte de rendimento, ainda permite fazer utensílios para alimentação naqueles nós nos troncos que tão jeito fazem para transportar conduto, beber água ou fazer um gaspacho gaspatche» em montalvanês);


3. Os frutos (lande) boa fonte de alimento para o gado porcino (porcos e javalis) imprópria para consumo humano devido à sua amargura;


4. A madeira é muito dura e compacta para ser trabalhada, mas é de excelência, desfeita em "cavacas" para ser queimada como aquecimento ou para cozinhar. O Ti Zé Caratana (principal carpinteiro de Montalvão, ou como ele "justificava", teria de ser carpinteiro ou não se chamasse José, como José era o carpinteiro pai de Cristo) utilizava um robusto tronco achatado de sobreiro para fazer de cadeira e banca de trabalho. 

Considerado o sobreiro mais velho de Portugal com 235 anos

Este blogue irá acompanhar o "Ciclo do Sobreiro" com quatro publicações por ano, utilizando um nobre sobreiro de Montalvão.

A. Verão - Início da frutificação e crescimento da lande. Descortiçamento (publicado em 3 de agosto de 2019);



Aproveitando as elevadas temperaturas de Verão - quanto mais elevadas, menos sofre o sobreiro - é a época de retirar a cortiça. Empilha-se na propriedade onde é retirada das árvores, deposita-se para secar, pesar menos (perdendo líquido) para depois facilitar o transporte.



B. Outono - Amadurecimento e apanha da lande (publicado em 30 de dezembro de 2019);

A Lande bem diferente em tamanho (mais pequenas), sabor (mais amargas) e utilização (para alimentação dos porcos) em relação às bolotas das azinheiras

C. Inverno - Inflorescências e floramentos que polinizados darão a lande do novo ano. As folhas tenras e comestíveis que cresceram nos últimos meses desde que os dias têm também crescido, ou seja, desde o Solstício de Inverno (publicado em 4 de maio de 2020);











D. Primavera - A pequena e verde lande a crescer (a publicar em 30 de maio de 2020). Ficando em definitivo como texto permanente neste blogue. 


A primeira cortiça é a "falca" (aos 25 anos) depois da "secundeira" (aos 34 anos) e finalmente a cortiça (aos 43 anos). Dependendo da qualidade e espessura dos ramos do sobreiro vai-se sempre retirando "falca" e "secundeira" em direção ao topo da copa. Se um sobreiro durar cerca de 200/220 anos foi-lhe retirada cortiça 23/24 vezes.




Uma homenagem à Árvore que deu trabalho a milhares de montalvanenses durante 700 anos. E matou a sede a outros tantos.


Quem é que não gosta de levar o farnel num tarro («ferrado» em montalvanês) ou beber num couche («coutche» 
em montalvanês)? Beber como os deuses!













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28 abril 2020

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Sítio do Bernardino

28 abril 2020 0 Comentários
É DE URBANIZAÇÃO MUITO RECENTE QUANDO SE COMPARA COM O QUE SE AVISTA LÁ AO ALTO: MONTALVÃO SECULAR.



A primeira construção que teve - não considerando palheiros e currais - foi o Posto da Guarda Fiscal construído em meados dos Anos 10 como "posto fixo" (merecerá destaque num Futuro próximo, assim como os outros dois postos que coordenava junto à fronteira) no antigo caminho que ligava Castelo de Vide a Castelo Branco e vice-versa.


Quando se soube que a estrada nacional 359 não passaria a Montalvão, pois seguiria do Monte Queimado para Póvoa e Meadas, foi pedido que se construísse uma variante (que seria a n.º 3) para diminuir o ancestral isolamento da localidade a Nisa e ao "Resto do Mundo" As terraplenagens para transformar o caminho em estrada, na passagem pelo Sítio do Bernardino, foram em 1932 e a pavimentação em 1936

Só com a ligação, por macadame da variante n.º 3, entre Montalvão e o Monte Queimado, da estrada nacional n.º 359 entre Abrantes (Alferrarede) e Portalegre, via Mação, Nisa, Póvoa e Meadas, Beirã e Marvão (sopé), o Bernardino («Burnáldine» em montalvanês) passou a ser local com crescimento edificado, devido à encruzilhada das duas estradas, a Sul, com ligações: uma a Castelo de Vide e a outra, a Nisa; e a planura que contrastava com Montalvão.


O Sítio do Bernardino entre 1947 com a construção da «Escola Primária» e edifícios de habitação na estrada de e para Nisa; e 1952, já com edifícios a sul do posto da GNR, na "estrada da Póvoa"; e os dois «Lagares de Azeite» junto à estrada com ligação a Nisa

Junto ao Posto da Guarda Fiscal, a sul, foi edificado o da Guarda Nacional Republicana (entre 1945/1946), a Escola Primária (1947/1949) e a instalação dos dois Lagares de moagem da azeitona (que anteriormente operava na Corredoura). Os edifícios de habitação foram sendo edificados na mais movimentada estrada, a de Nisa, do lado contrário ao da Escola. Até uma taberna abriu, a do Ti Juan Branco. Só depois se edificou para habitação, na estrada para Castelo de Vide, por Póvoa e Meadas.


A cartografia entre 1946, 1967 e 1997 da nova, que já é velha, expansão edificada em Montalvão

Antes das edificações a área, até um perímetro mais envolvente, era conhecida por ter boas nascentes - Chafariz de Páules, Fonte Judia e a dos Rafaneiros, entre outras, como a Fonte Carreira e poços com água potável boa para beber e cozinhar.


O "Sítio do Bernardino" entre 2005 e 2019. Mais rotunda, menos rotunda pouco se alterou

Atualmente é - ou tem sido - a área de expansão urbana de Montalvão por permitir construções com espaços envolventes livres, menos quintais ou mais jardins e estruturas em betão, ao contrário da tradicional edificação em lajes de xisto, rebocadas e caiadas.

E assim vai Montalvão...
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27 abril 2020

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Faria Artur: de Órfão a Casapiano

27 abril 2020 0 Comentários
HÁ 131 ANOS, FARIA ARTUR FOI INSCRITO NA REAL CASA PIA DE LISBOA.



Seria esta a sua residência durante os próximos nove anos e meio, desde 27 de abril de 1889 (sábado) até 29 de setembro de 1898 (quinta-feira).

Órfão de pai (Braz de Mattos Faria Arthur) aos dois anos, três meses e seis dias e de mãe (Thomasia Leandro) aos dois anos, sete meses e 29 dias foi admitido na Casa Pia de Lisboa, aos oito anos, um mês e onze dias. Já foi assunto neste blogue (clicar).


(clicar em cima desta e de quase todas as imagens permite melhor visualização das mesmas)



Foi o seu tio, João de Mattos Faria Arthur, escrivão suplente (ou seja de segunda) nas Finanças (então denominada Fazenda), em Nisa, que ficou responsável por António de Matos Faria Artur em virtude de ser órfão de pai e mãe.

Com a entrada na nobre Real Casa Pia de Lisboa que era, nesta última década do século XIX, uma das mais prestigiadas instituições de instrução e formação profissional, cívica, intelectual e humana de Portugal, tudo agora estava do lado do nosso Faria Artur. Resgatado a uma provável vida de dificuldades saberia aproveitar a oportunidade?


Vista aérea (em cima) e terrenos da Casa Pia de Lisboa (em baixo) antes das grandes modificações urbanísticas que ocorreram junto ao Mosteiro dos Jerónimos para organizar a «Exposição do Mundo Português» em 1940; Arquivo fotográfico da C.M.L.


Os terrenos da Real Casa Pia de Lisboa eram então, quando o nosso Faria Artur a frequentou, um vasto território entre as traseiras do Mosteiro dos Jerónimos e a serra de Monsanto. O nosso Faria Artur (aluno n.º 1903) enquanto aluno e redator de um dos inúmeros jornais manuscritos que os alunos editavam, cruzou-se com alguns dos fundadores e pioneiros de um clube de futebol que um dia seria conhecido em todo o Mundo, o Sport Lisboa e Benfica. A principal figura deste clube, Cosme Damião foi o aluno n.º 2487, que entrou para a Instituição, em 30 de abril de 1896, pois nascendo em 2 de novembro de 1885, era quatro anos e meio mais novo que o nosso Faria Artur. 



Foram colegas durante dois anos e meio. Enormes figuras da Vida Portuguesa frequentaram a Real Casa Pia de Lisboa nesse final do século XIX. Será que António de Matos Faria Artur conseguiria saber fugir ao destino que lhe foi traçado, em Montalvão, no ano de 1883, entre 22 de junho e 15 de novembro, respetivamente, morte do pai e da mãe?

Soube e de que maneira...

NOTA: Agradecimento à Casa Pia de Lisboa que facilitou o acesso ao processo do nosso Faria Artur, bem como ao seu vasto espólio. Obrigado
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26 abril 2020

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Minha Aldeia

26 abril 2020 2 Comentários
LÁ BEM NO ALTO. AO ALTO.
o



Uma aldeia centenas de anos isolada, numa espécie de ilha rodeada de terra, vendo-se ao longe montes e serranias, de Portugal a Espanha e por baixo ribeiros, barrancos e regatos. Sobreiros, oliveiras, silvas e xaras. Muros, azinhagas e serventias. Fontes, chafarizes e poços. Lajes, canchos e ponedros. Casas caiadas, barras azul e ocre. Desenvolveu-se uma cultura muito peculiar, resultado de tanto isolamento e alheamento. Resistiu sempre.


Minha Aldeia

Ó minha aldeia velhinha
Ó minha antiga casinha
Ó meu berço d' embalar
Como tudo era diferente
Ouvia-se antigamente
Os rapazes a cantar

Pois o tempo já mudou
E para sempre ficou
A doce lembrança minha
Os rapazes a cantar
Ó meu berço d' embalar
Ó minha aldeia velhinha

Pois o tempo já mudou
E para sempre ficou
A doce lembrança minha
Os rapazes a cantar
Ó meu berço d' embalar
Ó minha aldeia velhinha
Ó
Ó minha aldeia 
Ó mocidade 
Ó minha aldeia 
Ai saudade
A
Ó minha aldeia 
Ó mocidade 
Ó minha aldeia 
Ai saudade 
..........................................

Foi-se embora a mocidade
Foi-se embora a mocidade
Ficou a minha paixão
Quem não há-de ter saudade
Quem não há-de ter saudade
Dos tempos que já lá vão


Ó minha aldeia velhinha
Ó minha antiga casinha
Ó meu berço d' embalar
Como tudo era diferente
Ouvia-se antigamente
Os rapazes a cantar

Hoje o tempo já mudou
E para sempre ficou
A doce lembrança minha
Os rapazes a cantar
Ó meu berço d' embalar
Ó minha aldeia velhinha

Hoje o tempo já mudou
E para sempre ficou
A doce lembrança minha
Os rapazes a cantar
Ó meu berço d' embalar
Ó minha aldeia velhinha

Ó minha aldeia 
Ó mocidade 
Ó minha aldeia 
Ai que saudade
A
Ó minha aldeia 
Ó mocidade 
Ó minha aldeia 
Ai que saudade 

A
Ó minha aldeia 
Ó mocidade 
Ó minha aldeia 
Ai que saudade 

Assim vai Montalvão...

NOTA: Agradecimento ao "Trio Alentejo" (Manuel Agostinho, Pinto Machado e Vítor Paulo) pela cedência do tema musical do disco «Sucessos do Alentejo»



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21 abril 2020

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As Costureiras

21 abril 2020 0 Comentários
HOUVE DEZENAS DE COSTUREIRAS EM SETE SÉCULOS MONTALVANENSES.



No auge demográfico e social de Montalvão no século XX (Anos 40 e 50), houve a Xá Inlízia (Elisa) e a Marí Silva na rua de Sam Pedro, a Xá Fortunata na Praça e a Xá Jaquina Baleiza, no Arrabalde.


As costureiras montalvanenses vestiam as mulheres e catchópas da Vila. Tinham ainda outra função importante. Ensinavam às raparigas, educadas para serem "domésticas" (esposas e mães) os princípios elementares da costura para depois ao longo da sua vida, arranjarem a roupa dos maridos e fazerem a dos filhos.

(clicar em cima desta e de quase todas as imagens permite melhor visualização das mesmas)



Com a inauguração, em 10 de setembro de 1952, do edifício da «Casa do Povo» construído na "Horta da Ramalhoa", foi instalada na cave (traseiras) um "Posto da Obra das Mães".



As costureiras faziam um pouco de tudo, desde fatos de festas - batizados e casamentos - até roupa para o dia-a-dia. De saias, saiotes a blusas, lenços e vestidos. Rendas e bordados. Uma variedade que fazia das montalvanenses heroínas nos bailes e festas de Montalvão.



Muitas das costureiras eram Mestras de dezenas de catchópas que durante a vida foram aperfeiçoando o que aprenderam enquanto petizes numa povoação que tendo pouco mas de tudo, tinha de tudo um pouco.



Em 1952, nas traseiras da «Casa do Povo», a "Mestra" passou a ser uma professora contratada fora de Montalvão, hospedando-se numa casa do Arrabalde. Ensinava de tudo, desde coser a cozer. De segunda-feira a quarta-feira, aprenderam-se bordados de Castelo Branco, Arraiolos, Portalegre, Nisa, até Açores e Madeira. Toda a tradição de Portugal explicada e iniciada nas traseiras da «Casa do Povo». Ensinava todas as malhas, de canelados a rendas.  No fogão, a petróleo, na quinta-feira cozinhavam-se desde refugados, cozidos a fritos, de carnes, peixes e legumes. Aprendiam-se até comidas de outras terras e para outras gentes. Até coro afinado havia (sexta-feira) e primeiros-socorros se estudavam.

Próxima "paragem": Os Salsicheiros
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