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28 agosto 2021

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A Ínclita Geração Montalvanense

28 agosto 2021 0 Comentários

A QUE DISSE - NÃO! - NOS ANOS 50 E 60, A CONTINUAR UMA VIDA DE SERVIDÃO EM MONTALVÃO.




Foram «Mulhés» e «Hómes» montalvanenses, nascidos entre meados da década de 30 e início da década de 50. A «Ínclita Geração Montalvanense».


Há sempre exeções. Nem todos partiram com Saudade de Montalvão. Não houve exclusividade nessas gerações, pois antes e depois também houve quem o fizesse.




A decisão de deixar Montalvão está visível nos Recenseamentos. Em 1950 havia 2 649 pessoas a viver na freguesia para em 1970 restarem 1 485. São menos 1 164 habitantes. O número de nascimentos equivalia ao número de óbitos. Aliás as variações compensam-se pois se no final da década de 60 já se nascia menos em Montalvão - aliás nascia-se em Nisa - mas no início da década de 50 ainda havia mais nascimentos que óbitos. Quase menos 1 200 pessoas em duas décadas significa em êxodo de cerca de 60 pessoas por ano, ou seja, cinco por mês durante vinte anos, em média. 




Desde o aparecimento da povoação, "Fundação" entre o final do século XIII e início de XIV, com uma estrutura social - demográfica e económica - que permitisse a sua existência, continuidade e expansão que há um movimento generalizado de montalvanenses que se recusam a que eles, mas principalmente, os seus filhos e descendentes, tenham uma vida sem perspetivas e repetitiva sempre no limiar da pobreza, em que quase todos dependiam da vontade de poucos. Sempre fora assim com os seus antepassados. Tinha que haver um "corte". Não podia continuar assim. Os seus filhos não podiam sujeitar-se aquilo a que eles se sujeitaram, na infância, e que ouviam os seus pais e avós repetirem ciclicamente. Sabendo que o futura seriam exatamente o mesmo. Servidão e viver com dificuldades.  



Montalvão não tem o exclusivo desta tomada de consciência. Aconteceu por todo o País, mais ano, menos anos. Em Montalvão ocorreu com estes Homens e Mulheres nascidos entre meados dos Anos 30 e início dos Anos 50. Muitos casaram em Montalvão e saíram. Outros ainda solteiros. Muitas montalvanenses mesmo a viver já longe de Montalvão, ainda quiseram que os seus descendentes aqui nascessem e em final de gravidez regressavam para ter os filhos, numa das casas, geralmente das mães, com as parteiras que fizeram nascer centenas de crianças, por vezes duas gerações. Foram parteiras dos pais e dos filhos. 


Interior da Igreja Matriz - com soalho/madeira e púlpito - antes das obras de 1968/1969 que desfiguraram o traçado com dezenas (ou mais...) de anos

Esta geração montalvanense foi notável. Teria sido mais confortável não trocar a incerteza em terras estranhas (ainda que com ilusão de ser para melhor) pelo conforto de continuar a viver como os seus antepassados sempre haviam vivido. Preferiram partir, arriscar, longe, em cidades onde havia mais emprego, mesmo mais exigente que o "ranguerangue" de ser jornaleiro de um grande Proprietário, Lavrador ou Seareiro. 



E a verdade é que foram bem sucedidos. Os filhos tiveram melhores condições para viver do que teriam se ficassem em Montalvão. Quase todos pois há sempre exceções para confirmar regras. 


Mesmo os que ficaram em Montalvão, por terem condições mínimas aceitáveis, conseguiram colocar os filhos a estudar em Portalegre ou Castelo Branco e depois estes caminharam para cidades grandes onde fizeram a sua vida. 



Abandonar o conforto - o que se conhece - não é fácil mesmo que haja desconforto material. Houve muita coragem, embora o sucesso dos pioneiros tenha estimulado a saída dos seguintes. Lisboa e arredores - São Domingos de Rana (mini-Montalvão), Bobadela e a Outra Banda foram o destino, da generalidade da «Ínclita Geração Montalvanense». Até para ainda mais longe, para lá da Espanha que se vê de Montalvão, clandestinos "pela calada das noites", França, mas também Canadá, Alemanha, Luxemburgo, mas França foi o maior destino final.




Valeu a pena? Tudo vale a pena quando a alma não é pequena. Custou fazer a última curva, qual Bojador, e deixar de ver Montalvão mas isso permitiu que depois cada regresso tivesse significado acrescido. 



Mesmo não vendo Montalvão há sempre um coração para rimar.

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