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03 outubro 2020

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Os Professores

03 outubro 2020 1 Comentários
HOUVE DEZENAS DE PROFESSORAS/PROFESSORES EM DOIS SÉCULOS MONTALVANENSES.



No auge demográfico e social de Montalvão no século XX (Anos 40 e 50), houve o senhor Tomás da Escola (rapazes) e a Dona Mónica (raparigas). Chegaram depois o senhor Domingos Antunes, a D. Ana e o senhor Marcelino (estes dois formavam, também, um casal); a Dona Maria de Lurdes; e a Dona Lucília. E a seguir, tal como antes, muitos outros.

Foram estas três professoras e o professor Domingues Antunes que inauguraram a "Escola Nova" no sítio do Bernardino como se fez referência neste blogue aquando dos 70 anos da existência da Escola (clicar).
Catchópas/raparigas: D. Mónica, com as primeira e terceira classe; e D. Maria de Lurdes, com as segunda e quarta classe; 
Catchôpos/rapazes: Senhor Domingos Antunes, com a primeira e terceira classes; D. Lucília, com as segunda e quarta classe.  

(clicar em cima desta e de quase todas as imagens permite melhor visualização das mesmas)


Há um facto curioso, na atualidade um anacronismo. As catchópas só podiam ter professoras, mas os catchôpos podiam ter professoras ou professores.



Até à inauguração do novo edifício, no início do segundo período, do ano letivo de 1949/50, o edifício onde funcionava a escola dos rapazes era na rua de São Pedro e o das raparigas na rua da Barca (Casa do Senhor Padre). 



Duas professoras na "Escola das Raparigas" que depois foram inaugurar o novo edifício, em 23 de janeiro de 1950. A escola funcionava nas salas da frente do primeiro piso. O senhor padre vivia no piso térreo e nas traseiras do piso superior, onde estava a sua enorme cozinha e a serventia para o quintal que era quase uma «tapada» dentro de Montalvão!

A dificuldade em fazer corresponder edifícios de há um bom "par de anos" com a atualidade tem aqui um dos exemplos. Uma casa - entre o portão de serventia para o quintal onde vivia a Xá Ana (a Bordôa) e o portão de igual serventia da casa do senhor Tomás da Escola está transformada em duas e com o piso superior alterado para duas varandas: na origem apesar de grande só tinha piso térreo. Uma casa de branco caiado foi transformada em duas, curiosamente com barras diferentes, uma a ocre e outra a azul ultramarino. Muitas mudanças houve em Montalvão nos últimos 50 anos. Desde aglutinar/juntar duas ou mais casas numa, elevar pisos ou separar, como foi neste caso, da antiga "Escola dos Rapazes"! 


Um professor e uma professora na "Escola dos Rapazes" no edifício do senhor professor Tomás, cujas classes transitaram para o novo edifício. Na rua de São Pedro, a escola funcionava nos quartos da frente e o senhor Tomás, mesmo já não sendo professor, vivia na parte de trás com serventia para o quintal. Era neste edifício que todos, rapazes e raparigas, faziam o exame da terceira classe! Na quarta classe, durante anos, só em Nisa.



O sistema de ensino sofreu muitas mudanças durante o século XX que não está no âmbito destes textos serem demasiado exaustivos, mas há que saber que existiram diferenças na escolaridade obrigatória, entre rapazes e raparigas.

in «EVOLUÇÃO DA POLÍTICA EDUCATIVA EM PORTUGAL»; página 14; Alice Mendonça; Universidade da Madeira; 2017; Funchal

Da teoria legislativa à prática ia uma grande distância e era impossível controlar o que faziam as famílias num contexto de dificuldades no dia-a-dia em que não se entendia que necessidade tinham os filhos (principalmente as filhas) de estarem na Escola havendo tanto que fazer em casa e no campo. De pouco serviria, em Montalvão, saber mais que o básico, daí taxas de analfabetismo "assustadoras" que ainda na atualidade atingem, principalmente, mulheres acima dos 85 anos, ou seja, nascidas antes de 1935.


Além de que era possível fazer exame da terceira classe em Montalvão (para muitas catchópas o fim da escolaridade) mas da quarta classe apenas na sede de concelho, em Nisa. Neste edifício.





Montalvão tem uma história antiquíssima de oferta educativa. Com o ensino como fator importante de desenvolvimento de Portugal, consagrado na Carta Constitucional, em 1826.

in «EVOLUÇÃO DA POLÍTICA EDUCATIVA EM PORTUGAL»; página 7; Alice Mendonça; Universidade da Madeira; 2017; Funchal

Muito antes já Montalvão tinha escolas e era dos concelhos de Portugal melhor apetrechados, num tempo em que o ensino estava organizado por 47 Dioceses/Comarcas que existiam em Portugal. Portalegre era uma delas. Um "apanhado" pois merecerá destaque num Futuro próximo. Aliás para escrever acerca do ensino, em quantidade e qualidade, para Montalvão, terá de haver um tríptico: Escola Nova (clicar), Professores (3 de outubro de 2020) e Oferta Escolar (fica a faltar este). 









Os onze concelhos na Diocese ou Comarca de Portalegre antes da Reforma Administrativa iniciada, em 16 de maio de 1832 (decreto n.º 23), por Mouzinho da Silveira, nascido em Castelo de Vide (12 de julho de 1780) falecendo em Lisboa (4 de abril de 1849). Houve depois mais dois importantes decretos que deram forma ao que vigora na atualidade: 28 de junho de 1833 e 6 de novembro de 1836 


Sem necessidade de prolongar demasiado este texto os mapas e quadros não deixam dúvidas. Montalvão era dos concelhos do diocese de Portalegre aquele que oferecia mais oportunidades. Apenas os concelhos de Portalegre e Castelo de Vide tinham mais professores (de nível 1, para simplificar) e nível 2 (também para ter leitura simplificada). Dos onze concelhos (da Diocese ou Comarca) só onze ofereciam "Primeiras Letras/nível 1" e sete "Escolas Menores/nível 2". No nível 1, Montalvão oferecia três cadeiras, mais uma que Nisa, menos uma que Portalegre e duas que Castelo de Vide. Para o nível 2, Portalegre (4) e Castelo de Vide (2) tinham mais oferta que os restantes cinco, incluindo Montalvão. A Vila tem uma oferta educativa surpreendente num território com escassos meios culturais e educativos. No século XIX, mas já transitava do anterior, Montalvão era um território com um potencial educativo inusitado. Se depois foi utilizado, ou bem utilizado, isso já é outro "assunto"!


Um exemplo pessoal
Dos meus quatro avós - dois avôs e duas avós - nascidos, em 1905 (avô materno: 28 de novembro), 1910 (avó materna: 22 de fevereiro; e avô paterno: 30 de agosto) e 1914 (avó paterna: 4 de agosto) - só o meu avô materno, sabia ler e escrever (curiosamente o mais velho dos quatro) com a quarta classe feita em Montalvão, em 1916. E até mais que saber escrever, ler e contar, sabia falar, pois sabia pensar o que nem sempre é o mais fácil. Sabendo que fizera o exame da quarta classe sendo aprovado com distinção, lembro-me de o questionar. «Porque não estudou o avô mais depois da quarta classe?» Para mim, na minha inocência de dez/doze anos, à Escola Primária, seguia-se o Ciclo Preparatório, Liceu e Universidade. Com os seus olhos claros e esbugalhados respondeu certeiro, como sempre: «Para que queria um carpinteiro, em Montalvão, saber Latim e Grego!» Intrigou-me. Só passados mais de 40 anos percebi porquê! Eram algumas das disciplinas/cadeiras do que se seguiam à quarta classe (Primeiras Letras) nos chamados "Estudos Menores". Mas que podia ter aprendido - e em Montalvão - podia! Ainda outra curiosidade. Guardava religiosamente na carpintaria o seu livro da «Escola Primária». Além de ser na ortographia pré-reforma de 1911 - demorou a chegar a Montalvão, como tudo... - que tanto indignou Fernando Pessoa era mesmo um livro único, pois tinha desde as primeiras letras a textos complexos, ainda que o meu avô dissesse que  o professor "obrigava-os" a lerem capítulos de livros conhecidos de escritores portugueses reconhecidos.



Aquando da inauguração do edifício da nova escola, eram estes os quatro livros das quatro classes. Livros únicos, mas únicos para cada classe.




Depois outros se seguiram, infelizmente já não se pode escrever "e outros se seguirão" pois a escola há muito que deixou de existir como local para aprender e "fazer exame da quarta classe". No século XVIII havia Escola em Montalvão. No século XXI era bom, era!


Próxima "paragem": Os Curandeiros





1 comentários blogger
  1. Gato escondido com o rabo de fora.

    Então aquela moçoila bem bonita por acaso, assim como todas) em baixo à esquerda chama-se Miguéns?
    Estou esclarecido!

    Eu tropeçava neste blogue porque tinha muita história, a minha leitura preferido, agora sei quem deve ser este Caratana 1, palpita-me que é nem mais nem menos que o Alberto Miguéns, o grande historiador da Gloriosa história do Sport Lisboa e Benfica.

    É um ilustre Montalvoense (Montalvão é um alfobre de ilustres) nascido na Rua das Almas, onde eu já estive.

    Bem me queria parecer. Normalmente o facebook dá a conhecer outros blogues que sigo e eu sou um leitor assíduo do blogue "Em Defesa do Benfica" onde o ilustre Montalvoense escreve os seus Salmos, normalmente à meia-noite.

    Sim senhor.
    Por aquilo que eu conheço do Miguéns, o CARATANA 1, deve ser uma homenagem a um seu antepassado!!!

    Olhem, se era assíduo deste blogue, passei a ser um fiel leitor!
    Parabéns aos Montalvoenses. Terem este ilustre deste no seu seio, não é para todos!!!

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