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06 junho 2020

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Entre Canchos, Lajes, Cascalho e Ponedros

06 junho 2020 0 Comentários
COMO FOI TARDIO E COMPLEXO O POVOAMENTO CONTÍNUO E PERMANENTE DO VASTO TERRITÓRIO MONTALVANENSE.



Há registos de presença humana no território da freguesia de Montalvão desde a pré-história. Mas isso é comum em todo o território português e europeu. Só que era esparso, sem presença contínua e mesmo quando houve um objetivo concreto em povoar o mais cedo possível, a Ordem do Templo esteve quase um século até conseguir um núcleo urbano coeso e com dimensão para ser localidade com afirmação no território português.



Povoamento e Ruralidade
A geologia do território da freguesia ilustra na perfeição, o porquê das dificuldades (nada ocorre por acaso) e justifica até a localização dos outros dois aglomerados populacionais duradouros e antigos, (Monte da) Salavessa e Monte do Pombo, embora há cerca de meio século que este esteja abandonado. Houve outros pequenos núcleos, mais de uma dezena, mas nunca passaram de um conjunto restrito de famílias e foram efémeros. 


Períodos geológicos apresentados de forma mais didática

Só o árduo trabalho montalvanense "domesticou" os terrenos
A principal razão, tendo em conta a forma de vida até à Era Industrial, foi a dificuldade em adaptar as técnicas agrárias a um espaço agrícola que tornava difícil a Vida Rural. Solos pouco férteis, débeis em espessura e secos, juntando-se a dificuldade em obter água de qualidade em abundância para consumo humano. A que enche com regularidade o «Depósito» vem de Póvoa e Meadas, outra freguesia até de um outro concelho (Castelo de Vide).


A génese e características das rochas em Montalvão adaptadas aos períodos geológicos (em cima) e um perfil geológico (em baixo) com onze quilómetros entre o ribeiro de Fevêlo (no início da delimitação com a freguesia de São Simão/Pé da Serra) e o rio Sever (a 500 metros da Barragem de Cedilho)

Canchos e Lajes (em linguagem popular, a Natureza, ao longo de milhões de anos, cozeu a lama)
A maior parte dos terrenos são de xisto (cinzento escuro) e grauvaques (acastanhada/acinzentada) com mais de 500 milhões de anos (ante-ordovícico). Rochas sedimentares (por exemplo, argilas) metamorfizadas devido à conjugação de fatores de pressão e temperatura resultantes de movimentos gerados no interior do Planeta. A uniformidade é impressionante, ainda mais considerando um território tão vasto. As intrusões filonianas - quartzosos a amarelo e micrognaníticos a vermelho, na legenda da carta - têm orientações que ilustram como se fizeram os enrugamentos das placas de xisto e grauvaques. Nos filões quartzosos de Este para Oeste e nos filões de microgranito de Noroeste para Sudeste. O resultado em termos de terrenos agrícolas é de pobreza que é extrema se houver declives (barreiras) com grande inclinação pois esta expõe os xistos e os grauvaques à superfície como se observa com frequência nos principais cursos de água que parecem correr dentro de um leito de pedra.


    
O ondulado da paisagem vista lá do topo para todos os lados
A ação das linhas de água e escorrência durante milhões de anos, sob condições muito diferenciadas, fez os principais rios, ribeiras e ribeiros correrem encaixados (vales profundos e estreitos) em meandros complexos e tortuosos, onde nem a grande capacidade dos montalvanenses se adaptarem a condições tão adversas sortiu efeito. Nunca passaram de rochas expostas ao tempo e mato, xaras e giestas, às vezes miniaturas delas...). Os xistos e grauvaques (canchos e lajes) de maior dureza resistiram mais sendo por isso os pontos mais elevados - com destaque para o Monte onde assenta a localidade - e os menos resistentes vales estreitos onde nem é possível acumular sedimentos que, a cada invernada, deslizem pelas vertentes ou que sejam transportados pelos cursos de água. Há escassas áreas com alguma fertilidade daqui resultante e as poucas foram conseguidas mais por ação humana que por dádiva da Natureza. A natureza e facilidade com que se encontram placas de xisto permitiu aproveitamento humano para fazer muros, dividindo propriedades ou criando azinhagas. Também se utilizaram para fazer paredes - depois rebocadas e caiadas se em casa de habitação humana - e lajear o chão dessas habitações.


Xistos e Grauvaques

Ponedros e cascalho em terrenos de charneca
Além do xisto dominante, com mais de 500 milhões de anos, ainda resistem nalgumas cumeadas e vertentes próximas das «Barreiras Tejo» os terrenos de areia, que são mais de areão compactado ou arenitos (arcoses) e pedra rolada solta. São depósitos recentes - pois "só" têm cerca de 25 milhões de anos - mas ainda assim recentes tendo em conta que o território é dominado a 99 por cento por terra com 500 milhões de anos. Já ocuparam uma maior extensão mas a ação da Natureza - escorrência de água depois das grandes trovoadas e chuva implacável durante tantos milhões de anos - vai rolando muito areão e ponedro encosta abaixo, daí que quanto mais na cumeada estiverem depositados mais vão resistindo. 


Arenitos/Arcoses e cascalho/pedras roladas/ponedros


Terrenos de areia permitem outro tipo de técnicas agrárias
Foi junto as estas duas grandes coberturas de ponedros e cascalho, onde na baixa das vertentes aflora água em nascentes de boa qualidade por ser de infiltração fácil e qualidade ao dissolver sais ricos em vários minerais que se estabeleceram as duas principais povoações do território (de concelho a freguesia), além de Montalvão: (Monte da) Salavessa e Monte do Pombo. Não foi apenas e só por isso, mas o resto da interpretação acerca da localização destes dois lugares fica para texto à parte a fazer no Futuro próximo. Acrescentar a este já de si complexo, ainda mais esse, ia complicar mais o texto de hoje que já por si não é fácil. A água canalizada, distribuída ao domicílio, na Salavessa é obtida na Charneca. Água de excelência. Bebi muita na "Fontinha" junto dos talhões da horta do meu bisavô materno (lado da avó). Até morangos silvestres cresciam junto a uma das nascentes.  



Charnecas em flor
Ao mudar o tipo de solos, de xistos barrentos para ponedros e areão, muda o tipo de vegetação. Os arbustos e herbáceas são de outro tipo, tais como o rosmanhinho, o sargaço, o trovisco, a carqueja e o alecrim. Muda a Natureza, muda o Ser Humano. Para lá de Montalvão, a chegar às «Barreiras do Tejo», mais para Oeste (Salavessa) ou mais para Noroeste (Monte do Pombo) restam as oliveiras, mas até estas, passaram a ser oliveirinhas, ainda que generosas em azeitona e azeite.



A paisagem ondulante
Vista lá do Monte-vão parecem ondas de terra antiga numa massa que tem tantos milhões de tempo de vida como de peso sofrido. Quando têm vegetação alta, herbáceas e arbustos, e há vento forte parecem ondular ao sabor de marés. Elas podem não se movimentar com a cadência das ondas do mar mas também fazem sonhar os montalvanenses e recordar quanto suor humano gerado em Montalvão não as domesticou e quantos animais não as calcorrearam durante séculos...



Apesar de tanta dificuldade o certo é que Montalvão foi-se fazendo no tempo!
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