Mas nunca ninguém as viu nem há qualquer registo e há duas imagens publicadas no final de 1512 que não mostram qualquer vestígio mesmo ínfimo. Nada! Eis dois desenhos aprumados e publicados na recolha "Livro das Fortalezas" por Duarte de Armas (Lisboa, 1465 - Lisboa, 15??), nos Anos da Graça de 1510 a 1512, num trabalho apurado Sul para Norte, realizado entre a Primavera de 1509 e o Verão de 1510.
VISTO DE NORTE
VISTO DE SUL
Nestas imagens o que se veem são as típicas divisões dos "tchons" (chãos): pequenas propriedades junto da aldeia, a circundá-la, geralmente com oliveiras. Construções baixas de blocos de pedra-cancho (xistos) e ponedros (grauvaques) com cerca de um metro a metro-e-meio de altura por meio-metro de espessura/largura. Estes desenhos foram feitos cerca de 200 anos depois da Fundação de Montalvão. Seria impensável não haver toda a muralha (se alguma vez existisse) nem sequer um troço, até mínimo, de uma muralha envolvente.
Uma muralha defensiva a envolver uma aldeia não é apenas um muro divisório de terreno agrícola, mas em ponto maior. É muitíssimo mais do que isso. Teria de ter uns três metros de altura e até mais de um metro de espessura. Teria de ter fundações, alicerces, enterrados. A não ser assim tombaria como um dominó! Apenas com meia dúzia de guerreiros a encostarem-se.
Depois há outras questões:
1. Fazer uma muralha defensiva envolve um custo tremendo, em tempo e esforço humano aplicado na construção;
2. Desfazer uma muralha defensiva, mesmo retirando alguns setores é trabalho inútil - que não tem justificação - pois não serviria para nada, a menos que fosse utilizado em privado, mas as muralhas defensivas a envolver localidades são públicas;
3. Numa localidade junto à fronteira, havendo uma muralha defensiva a envolvê-la não fazia qualquer sentido, desfazê-la totalmente. Por menos se... destruía a do "castelo" que é mais uma cerca fortificada que um Castelo. E ficou até aos dias de hoje apenas destruída pelo passar do tempo e incúria dos homens;
4. A existência de portas na muralha obrigaria, pelo menos, estas a manterem-se visíveis até porque fazer pórticos significa trabalho de cantaria em qualidade de excelência. Nada resta, pois nada houve.
O Mito baseia-se na existência de dois topónimos: rua da Porta de Baixo e rua da Porta de Cima. Ou seja, seria uma muralha com pelo menos um quilómetro de extensão ou mais - apenas com duas portas - dependendo de quais as ruas que estariam no interior das muralhas. Até a localização das "portas" é inadequada. Fazia muito mais sentido haver uma Porta de Nisa (no rua de São João ou do Arrabalde) e outra ao fundo da rua Direita ou na rua de Ferro, a Porta da Salavessa ou da Barca. Os topónimos "Portas" também não estão longe dessas localizações - estão laterais às mesmas - mas seria mais lógico - como em todas as povoações - designar as saídas com o nome da localidade para onde seguia o caminho.
A existência do topónimo "Portas" parece indicar muito mais saídas, para o rio Sever (Porta de Baixo) e rio Tejo (Porta de Cima) que a existência de barreiras físicas - abertas de dia e fechadas à noite ou se a aldeia fosse ameaçada do exterior - imaginando-se que quando foram designadas «Portas» a aldeia se resumisse ao Largo da Igreja/Castelo, rua Direita e o Arrabalde (que é em português arcaico, o termo para "o extremo"). A rua da Costa, da Barca, de Ferro e das Almas são eixos que ilustram o crescimento da aldeia para Norte. As ruas do Arneiro/São Pedro e das Traseiras foram sendo organizadas com construções de casas nos quintais dos edifícios da rua Direita.
Um muro agrícola, mas um troço das supostas «muralhas» que até uma malhada de javalis eram animais para as derrubar |
Conclusão:
1. A aldeia (outrora vila) mas com pouco mais de cerca de meio-milhar de habitantes durante séculos não justificaria ter muralhas em todo o seu perímetro. Montalvão foi vila pela posição que ocupava - um monte altaneiro a dominar um vasto território inóspito - e pelo prestígio com que foi fundada em território dominado pela Ordem do Templo;
2. Na Europa (único continente com cercas de pedra a envolver localidades) não há memória de uma povoação amuralhada ter perdido toda a muralha, até porque as habitações que iam sendo construídas tinham tendência a encostarem as empenas das traseiras às muralhas;
3. Mesmo o que se diz, em Montalvão, muros que teriam feito parte da muralha - um troço no lado Sul do Adro e outro junto da rua das Portas de Cima - são demasiado débeis, em altura e/ou espessura, para poderem ser muralhas de defesa de um povoado. São apenas muros de divisões, entre propriedades agrícolas, bem construídos;
4. Tendo em conta haver um espaço fortificado, o «Castelo», onde caberia toda a população montalvanense antes de 1450 ou 1500 não fazia sentido despender tempo e trabalho em fazer muralhas à volta de uma pequena povoação. Havendo muralhas anteriores ao «Castelo» não tinha sentido fazer um enorme espaço amuralhado. Então seria construída uma «Torre de Menagem» - em vez dessa cerca amuralhada - torre que nunca existiu.
"Nasci" a ouvir falar das «muralhas». Cresci a convencer-me - por comparação com outras povoações - que nunca existiram em Montalvão.
0 comentários blogger
Enviar um comentário