Uma estrutura urbana delineada com funções determinadas num espaço plano sem grandes preocupações defensivas, a não ser edificar um castelo como segurança em caso de alguma investida que não sendo previsível podia ser possível. Espaço para garantir eventual segurança a pessoas e bens pois conhecendo-se um presente livre de conflitos entre Templários e Almóadas o futuro seria sempre incerto.
Nisa surge entre dois grão-mestres: Martins Sanches e Estêvão de Belmonte
Apesar de tudo, o Grão-Mestre que decidiu a necessidade de uma localidade organizada em núcleo urbano e território em seu torno para lhe dar sustentabilidade foi Dom frei Martins Sanches. Este Grão-Mestre tem a particularidade de não ter cessado o seu mestrado por morte (só em 14 de maio de 1234) mas por renúncia o que torna as datas pouco precisas. Deve ter renunciado por se sentir incapaz, por motivos de saúde, físicos, religiosos ou de estratégia e capacidade política, de suportar "o peso de cargo tão grande" no primeiro semestre de 1129 pois em junho de 1229 assina uma escritura como simples monge-guerreiro.
Dom frei Estêvão de Belmonte vai ter um mestrado de nove anos até ao seu falecimento em dezembro de 1137. Foi com ele que Nisa nasceu, cresceu e se organizou recebendo "Foral".
Um "Foral" é em sentido prático um documento com direitos e deveres dos habitantes de uma região delimitada que legalizam, protegem e permitem desenvolver um núcleo populacional e o espaço envolvente (termo).
Durante o mestrado de D. f. Estevão de Belmonte há um acontecimento que sendo de âmbito nacional teve efeitos colaterais nas terras da raia, entre o Reino de Portugal e o de Leão. O território da Açafa beneficiou - ou nele teve repercussões - o acordo, em 2 de abril de 1131, na vila de Sabugal (Castelo Templário, tendo certamente como anfitrião o seu Grão-Mestre), entre D. Sancho II (de Portugal) e D. Fernando III (de Castela e Leão) onde se define que o objetivo era tomar território aos muçulmanos, de Norte para Sul, e não provocar conflitos entre reinos cristãos contíguos. Ou seja, um acordo de fronteiras e amizade que permite ainda dar mais estabilidade ao território da Açafa que vai deixando de o ser com a fundação de povoados. Depois de se ver livre de conflitos entre Templários e Almóadas surge um acordo que liberta o território de conflitos entre Portugal e Castela/Leão. É que D. Fernando III de Castela junta a este Reino, o Reino de Leão depois da «Concórdia de Benavente, próximo de Zamora» (11 de dezembro de 1130) em que as duas infantas - Sancha e Dulce - renunciam ao trono do Reino de Leão em troca de dinheiro. Em menos de quatro meses resolve-se o conflito, sempre latente na fronteira, desde que D. Afonso Henriques decidiu tornar-se Rei, ou seja, deixar de prestar vassalagem ao Reino de Leão.
«Nisa velha» e «Nisa nova»
Não há relação, nem continuidade entre as duas supostas localidades. Não parece ter existido qualquer povoado na elevação onde se localiza a Ermida de Nossa Senhora da Graça. Pode ter havido alguma ocupação humana, mais ou menos prolongada no tempo, mas sempre episódica e interrompida, reduzida a uma família ou várias com grau de parentesco próximo num espaço tempo de milhares de anos - muito mais os sem ocupação, que o tempo ocupado devido ao isolamento e conflitos bélicos - mas isso existiu em muitos outros lugares do território da Açafa. Nisa foi um local previamente escolhido pela Ordem dos Cavaleiros do Templo por ser num local plano bem situado em termos de facilitar a deslocações para qualquer outro lugar, ou seja, foi escolhido pela sua boa posição geoestratégica e não para dar continuidade à denominada «Nisa velha» ou para "deslocalizar" esta. A chamada «Nisa velha» não tem qualquer vestígio de ruínas pré-cristãs ou no primeiro milénio depois de Cristo e se tivesse alguma importância demográfica (30/40 habitantes) teria deixado vestígios pois estes - sendo construção alicerçada em pedra - não desaparecem nem volatilizam. Foi ocupada posteriormente para se construir uma ermida afastada da vila de Nisa - num local com algum significado para o tempo - como é vulgar em todas as localidades da Açafa.
As localidades na «Herdade da Açafa» povoaram-se tão lentamente como diminuto foi o seu crescimento demográfico, como indica o «Numeramento de D. João III» (1527), ou seja, três séculos passados:
Nisa - 349 moradores/casas - cerca de 1 570 habitantes - em todo o termo (concelho);
Montalvão - 181 moradores/casas - cerca de 814 habitantes - em todo o termo (concelho), mas 153 - cerca de 688 habitantes - na povoação (28 moradores/126 habitantes, fora da vila);
Alpalhão - 115 moradores/casas - cerca de 517 habitantes - em todo o termo (concelho);
Arez - 44 moradores/casas - cerca de 198 habitantes - em todo o termo (concelho).
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