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10 fevereiro 2019

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Ao Lume Com o Ti Zé Caratana I

10 fevereiro 2019 0 Comentários
QUE É COMO SE DIZ ESTAR À LAREIRA EM MONTALVANÊS.



Foram tempos bem passados. Primeiro na casa da Rua das Almas (onde nasci). Depois na da Rua de São Pedro (onde passava as Férias Grandes mesmo grandes, de meados de Junho a início de Outubro). O Ti Zé Caratana ou JAL (como ele gravava no xisto das propriedades) nas divisórias para não "ter trabalhos". Passar o dia no «Lagar» (ex-lagar de azeite da aldeia depois oficina de carpinteiro na Rua das Almas). Ou andar em cima do trilho de madeira na eira da «Tapada do Pontão». Ou não conseguir beber a água salobra cheia de aranhiços no pocinho da «Fonte Cereja». Ou ir apanhar uvas na «Cerejeira» e roubar uma romã. Ou ir ao «Lamaceiro» ripar o grão-de-bico. Ou ir passar o dia na «Charneca» entre medronheiros e figueiras da índia com uma boa nascente para alimentar os dois socalcos com horta. Ou ir à «Nave-Cravis» com aquele palheiro típico que dava para duas propriedades distintas. Ou ir ao «Monte Pombo» ver o pinheiro manso e meia dúzia de sobreiros. As oliveiras eram comuns a todas as propriedades. No total uns seis hectares. Quase metade na «Tapada do Pontão» dividida em quatro: eira, cova, mina e última. O Ti Zé Caratana tinha dois burros que já não sou do tempo da égua. O meu burro era o «Redondo». O burro mais bonito da Vila. Até pensos rápidos aquele burro teve por causa das feridas e dos inoportunos mosquitos, melgas, moscas, varejeiras e moscardos que se aproveitavam das fragilidades do asno. Quem não ia muito em graça com gastar pensos rápidos em burros por ser "atitude burra" era a avó Ana da... Graça.

Mas o melhor eram os enchidos quando ainda estavam crus no fumeiro do lume, lá na cozinha dos primeiros pisos. Distinguir uma linguiça de um chouriço é que era o diabo para quem não sabia. Lá as horrorosas morcelas e farinheiras sonsas eram fáceis de identificar. Longe! 

Mais as cacholeiras e os mouros. Tudo no fumeiro. O toucinho estava condenado ao saleiro.

Bom, bom era o Lombo, o Paio, a Bexiga, o Painassedisso, o Buxo e o Guarda-fumeiro. O presunto era caso à parte e estava atafulhado em sal. À minha vontade o porco só dava destes petiscos. 

Ainda fresca de vez em quando tombava do céu da chaminé uma gota de unto. A carne estava a curar-se. Já vi médicos menos atenciosos para com as carnes.

O avô Zé Caratana era uma enciclopédia. E gostava de se rir dos netos que estudavam na cidade mas que não "pescavam" adivinhas montalvanenses.

1. Sou frio, também sou quente,
Sou fraco, também sou forte,
Nunca posso estar parado.
Vejam lá a minha sorte!

2. Qual é coisa, qual é ela?
Assobia sem boca
E corre sem pés, 
Bate na cara
E não vês?

3. Qual é coisa, qual é ela?
Que se põe na mesa
Corta-se e não é para comer?

4. Adivinhar, adivinhar
Qual é a coisa primeira
Que se faz ao acordar?

5. Qual é coisa, qual é ela?
Que quanto maior é
Mais perto fica do chão?



Quando acabavam as adivinhas ou histórias e começavam os provérbios é que tudo começava a andar para trás porque invariavelmente acabava no mesmo de sempre. Sempre

1. A aranha vive do que tece;

2. Bem rico é quem nada deve;

3. Cada macaco no seu galho;

4. De boas intenções está o Inferno cheio;

5. Deitar cedo, cedo erguer, dá saúde e faz crescer.

Tempos que já foram mas que ainda são (ou não estivesse a escrever acerca deles)


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