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21 março 2024

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Montalvão: Terra dos Poetas Ativos (Parte V)

21 março 2024 0 Comentários

EM SETE SÉCULOS DE MONTALVÃO É MULTIPLICAR POR SETE OS POETAS MONTALVANENSES.



Em média, há um rimador por geração (25 anos) parece-me a mim! Poetas um a cada cem anos! Talvez!


CARLOS ALBERTO LUCAS DA SILVA


(Nasceu, no Arrabalde, em 12 de junho de 1946)






NOTA: ainda não foi possível produzir um filme com este poema de excelência a ser declamado. Assim que tal for viável será colocado o vídeo.



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JÚLIO BAPTISTA MORUJO

(Ti Júlio «Rebêra»)


No mundo, para que há

Tanta inveja e ambição?

O cemitério lá está,

Onde todos descansarão.


Há no mundo tanta gente

Que ambiciona a riqueza...

Porque querem a grandeza,

Se a deixam de repente?

Tendo só o suficiente,

Eu julgo que chegará...

Depressa se deixará

Este mundo de ilusões

Tanta inveja e ambições,

No mundo para que há?


Seja rico, seja pobre,

Temos a vida emprestada...

Em cumprindo esta jornada,

A terra a todos nos cobre.

Mesmo que seja muito pobre,

Tudo finda no caixão.

Em chegando a ocasião

De deixarmos esta lida...

Porque queremos nesta vida

Tanta inveja e ambição?


Eu só queria para mim

Andar limpo, livre de fome...

A terra a todos nos come

E todos lá damos o fim...

Dizem que o mundo que é um jardim...

Mas o outro, o que será?

De tantos que vão para lá,

A dizer nenhum cá vem...

Para acabar o mal e o bem,

O cemitério lá está.


Todos devíamos de ser

Uns para os outros verdadeiros...

Não sermos tão traiçoeiros,

Como sempre se está a ver...

Mas para melhor compreender,

Só lidamos na traição...

Até o nosso próprio irmão

Nos falta com a verdade...

E tudo acaba mais tarde

Onde todos descansarão.



JOÃO DOS REMÉDIOS AMBRÓSIO

(Ti Júan Póquito)

(Nascido em 22 de outubro de 1923, na rua Direita; falecido em 1994)


Montalvão, triste velhinho

Chora sem consolação,

Ao lembrar-se, coitadinho,

Dos tempos que já lá vão.



Tens tanto prédio fechado,

De gente que abalou.

Filhinhos que ele criou,

O têm abandonado...

Vai tudo para o mesmo lado,

Toma tudo igual caminho.

Vão-te deixando sozinho,

Já tens ruas sem ninguém.

Já nem mocidade tem,

Montalvão, triste velhinho.


Abala tanta pessoa,

Dali para vários lados.

Deixam os seus lares fechados.

Dizem que vão para Lisboa.

Alguns abalam à toa,

Sem saber para onde vão...

Para ganhar algum tostão,

Lá vão na grande esperança,

Montalvão vai-se p'ra França,

Chora sem consolação.



Abala o velho e o novo...

Tudo te tem desprezado,

Vais sendo vila sem povo.

Ao ver-te assim, me comovo,

Porque sou de ti filhinho.

Ver-te assim, tão tristinho,

Lembram-me os tempos de outrora

E Montalvão triste, chora,

Ao lembrar-se coitadinho.


Lembram-me os tempos passados,

Que eu vivia, antigamente...

Eram todos... boa gente

E de costumes engraçados.

Todos estão acabados

Só a pobreza é que não...

Tens lá muita televisão,

Mas não te dão rendimento.

Lembram-me, a todo o momento

Dos tempos que já lá vão.




ANTÓNIO JOSÉ BELO


(Ti Zézana)


(Nasceu em 11 de junho de 1912 e faleceu em 26 de junho de 2002; morador na rua Direita, gaveto com a Ruínha de Cima, empalhador de «cadêras»: Ti Zézana; ensaiador das Contradanças)





O MEU FATO


Já tenho fato p'rá festa

Tenho outro p'rá semana

Eu tenho um fato de banho

E ainda o fato da cama


Tenho umas meias sem canos

Sapatos sem calcanhar

Para quando me vou deitar

Umas chinelas sem pano

Umas calças por engano

Já sem estopa nem aresta

É tudo o que me resta

Para brincar ao Carnaval

Para a Páscoa e Natal

Já tenho fato p'rá festa


A camisa de flanela

Foi-me oferecida p'rá tropa

Eu tenho um par de botas

Uma é preta outra amarela

Tenho um cinto sem fivela

Que faço muito empenho

Tanto fato que eu tenho

Nenhum por mim foi provado

Todo roto e esburacado

Eu tenho um fato de banho





TI ANTÓNIO BRANCO

(Nascido em 1876; falecido em 1954)


PASSEANDO PELO CAMPO

É bonito ver no prado
O pachorrento boi lavrando
À frente do seu dono
Alegremente cantando

I
Veio-me um dia ao pensamento
Ir ao prado passear
Somente para apreciar
Qual o seu tratamento
Motivo porque passeei atento
Com o passo bem descansado
Mas logo me vi cercado
De borregos e chibinhos
E com o canto dos passarinhos
É bonito ver no prado

II
Ainda não arraia o dia
Já o homem vai cantarolando
E o gado aproximando
Para lavrar a terra fria
No meio da árvore sombria
E dos passos que foi dando
Alguém se foi aproximando
Para ver o que dava a moda
E ver o arado com roda
E o pachorrento boi lavrando

III
Com a canga no cachaço
Presa por uma correia
E outra que nas chaves se enleia
À maneira de um laço
Mas sem mudar de passo
Passa os dias com ardor
Mas não muda de tenor
Até que vá para a cabana
Porque puxar toda a semana
À frente do lavrador seu dono

IV
Sofre imenso tormento
Sempre metido na cruz
Lavrando terras que produz
Onde semeia várias sementes
Para alimento dos viventes
Que delas estão carecendo
Motivo porque vai lavrando
E obedecendo ao seu guia
Que aos campos dá alegria

Alegremente cantando.




ANTÓNIO DA GRAÇA HENRIQUES


(Nasceu, na rua do Outeiro, em 27 de março de 1955)




ESTOU CONTIGO

Porque chorei por ti
Não te queria deixar
Parti e mudei de vida
Mudei para outro lugar

Parti para outro lugar
Mas não te vou esquecer
Tu és tudo para mim
És a razão do meu ser

Minha terra meu amor
Te guardo no coração
Terra da minha vida
Meu amor é Montalvão

Serei teu Embaixador
Aqui e em outro lugar
Vou te sempre enaltecer
Por muito muito de amar

O amor da minha vida
Desta terra onde nasci
Estes poemas que escrevo
São as lembranças de ti


JOSÉ ANTÓNIO VITORINO

(Ti Zé do Santo; nasceu em 2 de fevereiro de 1915/Salavessa; falecido)



QUEM SOU?


José António Vitorino

Conhecido por «Zé do Santo»

Viúvo, um pássaro sem ninho!...

Vivo à mercê do destino,

Sempre um viver palpitante...


A minha jovem velhice

Para o que me havia de dar,

Faz lembrar-me a meninice...

Que eu tive afago e meiguice

E passei a vida a chorar.


Chego a casa que tristeza

Me comove o coração!...

Nunca tenho a luz acesa,

Quando eu tinha sempre a mesa

Já pronta para a refeição.


Tenho filhas, tenho netos,

Todo o bem sobre mim cai.

Isto são pontos concretos,

Tenho dois genros completos

Que até me tratam por pai.


De tudo o que eu preferia

Não é como a gente quer.

Para acabar esta arrelia

Era ter morrido o dia

Que morreu minha mulher...



JOÃO GORDO DO ROSÁRIO CORREIA

(Nasceu em 26 de setembro de 1917/ Salavessa; faleceu, em Montalvão, a 10 de novembro de 2015)


MAIS INCERTEZAS



Tempos e vidas tudo acaba

Vêem-se tantas modificações

No campo ermidas tombadas

Tantas orações ali rezadas

Talvez noutras antigas gerações


Que seriam os pedreiros

Que a velha ermida de Santo António levantaram

Quem seriam as primeiras pessoas

Fossem más ou fossem boas

Que as primeiras orações ali se rezaram


No Pêro Galego encontraram-se

Pedras que parecem ser de janela

Já se encontrou ali uma sepultura

Não estava a grande fundura

Talvez do tempo de Santa Madalena

Encontraram-se telhas partidas

Talvez da igreja dela


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