EM SETE SÉCULOS DE MONTALVÃO É MULTIPLICAR POR SETE OS POETAS MONTALVANENSES.
Em média, há um rimador por geração (25 anos) parece-me a mim! Poetas um a cada cem anos! Talvez!
CARLOS ALBERTO LUCAS DA SILVA
(Nasceu, no Arrabalde, em 12 de junho de 1946)
NOTA: ainda não foi possível produzir um filme com este poema de excelência a ser declamado. Assim que tal for viável será colocado o vídeo.
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JÚLIO BAPTISTA MORUJO
(Ti Júlio «Rebêra»)
No mundo, para que há
Tanta inveja e ambição?
O cemitério lá está,
Onde todos descansarão.
Há no mundo tanta gente
Que ambiciona a riqueza...
Porque querem a grandeza,
Se a deixam de repente?
Tendo só o suficiente,
Eu julgo que chegará...
Depressa se deixará
Este mundo de ilusões
Tanta inveja e ambições,
No mundo para que há?
Seja rico, seja pobre,
Temos a vida emprestada...
Em cumprindo esta jornada,
A terra a todos nos cobre.
Mesmo que seja muito pobre,
Tudo finda no caixão.
Em chegando a ocasião
De deixarmos esta lida...
Porque queremos nesta vida
Tanta inveja e ambição?
Eu só queria para mim
Andar limpo, livre de fome...
A terra a todos nos come
E todos lá damos o fim...
Dizem que o mundo que é um jardim...
Mas o outro, o que será?
De tantos que vão para lá,
A dizer nenhum cá vem...
Para acabar o mal e o bem,
O cemitério lá está.
Todos devíamos de ser
Uns para os outros verdadeiros...
Não sermos tão traiçoeiros,
Como sempre se está a ver...
Mas para melhor compreender,
Só lidamos na traição...
Até o nosso próprio irmão
Nos falta com a verdade...
E tudo acaba mais tarde
Onde todos descansarão.
JOÃO DOS REMÉDIOS AMBRÓSIO
(Ti Júan Póquito)
(Nascido em 22 de outubro de 1923, na rua Direita; falecido em 1994)
Montalvão, triste velhinho
Chora sem consolação,
Ao lembrar-se, coitadinho,
Dos tempos que já lá vão.
Tens tanto prédio fechado,
De gente que abalou.
Filhinhos que ele criou,
O têm abandonado...
Vai tudo para o mesmo lado,
Toma tudo igual caminho.
Vão-te deixando sozinho,
Já tens ruas sem ninguém.
Já nem mocidade tem,
Montalvão, triste velhinho.
Abala tanta pessoa,
Dali para vários lados.
Deixam os seus lares fechados.
Dizem que vão para Lisboa.
Alguns abalam à toa,
Sem saber para onde vão...
Para ganhar algum tostão,
Lá vão na grande esperança,
Montalvão vai-se p'ra França,
Chora sem consolação.
Abala o velho e o novo...
Tudo te tem desprezado,
Vais sendo vila sem povo.
Ao ver-te assim, me comovo,
Porque sou de ti filhinho.
Ver-te assim, tão tristinho,
Lembram-me os tempos de outrora
E Montalvão triste, chora,
Ao lembrar-se coitadinho.
Lembram-me os tempos passados,
Que eu vivia, antigamente...
Eram todos... boa gente
E de costumes engraçados.
Todos estão acabados
Só a pobreza é que não...
Tens lá muita televisão,
Mas não te dão rendimento.
Lembram-me, a todo o momento
Dos tempos que já lá vão.
ANTÓNIO JOSÉ BELO
(Ti Zézana)
(Nasceu em 11 de junho de 1912 e faleceu em 26 de junho de 2002; morador na rua Direita, gaveto com a Ruínha de Cima, empalhador de «cadêras»: Ti Zézana; ensaiador das Contradanças)
O MEU FATO
Já tenho fato p'rá festa
Tenho outro p'rá semana
Eu tenho um fato de banho
E ainda o fato da cama
Tenho umas meias sem canos
Sapatos sem calcanhar
Para quando me vou deitar
Umas chinelas sem pano
Umas calças por engano
Já sem estopa nem aresta
É tudo o que me resta
Para brincar ao Carnaval
Para a Páscoa e Natal
Já tenho fato p'rá festa
A camisa de flanela
Foi-me oferecida p'rá tropa
Eu tenho um par de botas
Uma é preta outra amarela
Tenho um cinto sem fivela
Que faço muito empenho
Tanto fato que eu tenho
Nenhum por mim foi provado
Todo roto e esburacado
Eu tenho um fato de banho
TI ANTÓNIO BRANCO
(Nascido em 1876; falecido em 1954)
ANTÓNIO DA GRAÇA HENRIQUES
JOSÉ ANTÓNIO VITORINO
(Ti Zé do Santo; nasceu em 2 de fevereiro de 1915/Salavessa; falecido)
QUEM SOU?
José António Vitorino
Conhecido por «Zé do Santo»
Viúvo, um pássaro sem ninho!...
Vivo à mercê do destino,
Sempre um viver palpitante...
A minha jovem velhice
Para o que me havia de dar,
Faz lembrar-me a meninice...
Que eu tive afago e meiguice
E passei a vida a chorar.
Chego a casa que tristeza
Me comove o coração!...
Nunca tenho a luz acesa,
Quando eu tinha sempre a mesa
Já pronta para a refeição.
Tenho filhas, tenho netos,
Todo o bem sobre mim cai.
Isto são pontos concretos,
Tenho dois genros completos
Que até me tratam por pai.
De tudo o que eu preferia
Não é como a gente quer.
Para acabar esta arrelia
Era ter morrido o dia
Que morreu minha mulher...
JOÃO GORDO DO ROSÁRIO CORREIA
(Nasceu em 26 de setembro de 1917/ Salavessa; faleceu, em Montalvão, a 10 de novembro de 2015)
MAIS INCERTEZAS
Tempos e vidas tudo acaba
Vêem-se tantas modificações
No campo ermidas tombadas
Tantas orações ali rezadas
Talvez noutras antigas gerações
Que seriam os pedreiros
Que a velha ermida de Santo António levantaram
Quem seriam as primeiras pessoas
Fossem más ou fossem boas
Que as primeiras orações ali se rezaram
No Pêro Galego encontraram-se
Pedras que parecem ser de janela
Já se encontrou ali uma sepultura
Não estava a grande fundura
Talvez do tempo de Santa Madalena
Encontraram-se telhas partidas
Talvez da igreja dela
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