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02 abril 2020

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Rua do Ferro

02 abril 2020 0 Comentários
E NÃO RUA DE FERRO.


Nos documentos mais antigos escreve-se sempre DO. E tem lógica. Depois com a corruptela do linguajar passou a ser mais rápido dizer rua de Ferro, até é mais "Rua d'Ferro". Eu sempre disse rua de Ferro até começar a ler centenas de registos, dos séculos XVIII, XIX e até início do século XX, onde está escrito «Rua do Ferro» como se exemplifica com quatro documentos/registos, mas podiam ser 400!



A principal via que ligava Castelo de Vide a Castelo Branco (e vice-versa) passava por Montalvão a caminho da Lomba da Barca onde se atravessava o rio Tejo. Entre Nisa e Castelo Branco (e vice-versa) coincidiam a partir do sítio do Bernardino. Em Montalvão entrava-se pela rua de São João, Arrabalde, rua da Barca (de acesso à mesma), rua das Almas, Monte do Santo André, caminho para a Ermida da Senhora dos Remédios, Monte do Pombo e Lomba da Barca. Não é por acaso que a Capela de Santo André fica junto a esta via, pois era o principal caminho.


A rua do Ferro deve ter sido - por ficar no extremo norte - a última rua a ser organizada dentro de Montalvão. Depois dela existia uma estreita azinhaga de acesso aos terrenos da Fonte Cereja e tapadas para lá desta. A rua do Ferro só cresceu e ganhou importância quando a azinhaga foi alargada para o lado direito (Norte) no sentido Montalvão - Praça de Touros, transformada em estrada quando se decidiu construir a estrada para a Salavessa a partir da Fonte Cereja/Praça de Touros. Quando era azinhaga enlameada tinha bem metade da largura da estrada alcatroada atual. A rua do Ferro até meados do século XX era pouco utilizada. Quando se queria ir ao Santo André, à Ermida de Nossa Senhora dos Remédios ou às Naves e para lá destas não se circulava pelas azinhagas que ligavam Montalvão à Fonte Cereja e esta ao Santo André. Era mais rápido e melhor circular pela azinhaga que surgia depois da rua das Almas. 



A rua do Ferro deve ter surgido no século XVIII e o topónimo derivar de uma tapada pertencente a um Lavrador com o apelido de Ferro, muito comum em Montalvão.



O primeiro mapa - carta militar na escala 1/25 000 - cartografando Montalvão, com trabalho de campo em 1945/1946 e publicada em 1947 é inequívoca. A azinhaga depois da rua das Almas era mais larga e com piso regular (na legenda: a branco entre duas linhas contínuas, ou seja, de terra batida, suficientemente larga para passar um automóvel, com piso regular) que a azinhaga depois da rua do Ferro (na legenda: a branco entre uma linha contínua e outra descontínua, ou seja, de terra batida, estreita e com piso irregular). A simbologia indica a grau de importância. Ainda menos importante é só ser a tracejado, ou seja, ser uma vereda (de pé posto, na legenda). 


Entre o "do" e o "de"
Em termos de concordância até faz sentido rua do Ferro, ou seja, rua dos terrenos de alguém chamado Ferro ou alguém que tinha casa nessa via e chamava-se Ferro. 

Rua de Ferro é que não faz sentido a não ser uma corruptela linguística derivada da oralidade. A rua não é de ferro, nem de qualquer outro metal. É de ouro para os montalvanenses, por ser de Montalvão, mas de pedra: ponedros, placas de xisto sobrepostas a fazer paredes, rebocadas e caiadas. Como todas as outras ruas. 
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