EM 1527 SURGEM AS PRIMEIRAS INFORMAÇÕES, A NÍVEL NACIONAL, COM DEMOGRAFIA E LOCALIZAÇÕES DAS POVOAÇÕES MAIS IMPORTANTES DO REINO.
Montalvão revela-se, desde logo, um dos maiores povoados do Alentejo e de Portugal. Isto em 1527, há 497 anos.
No reinado de Dom João III (entre 1521 e 1557) realiza-se a primeira contagem da população, a nível nacional, bem como, a medição das distâncias dos termos (território) e delimitação com outros termos contíguos
Quando se comparam as sete povoações, referenciadas no "Numeramento de 1527" (Cadastro Geral do Reino) que pertencem ao atual concelho de Nisa, o território de Montalvão é a terceiro em número de moradores (181) correspondendo a 815 pessoas. No povoado 153 moradores (689 pessoas) e fora dele, a maioria na Salavessa, são 28 moradores, ou seja, 126 pessoas.
Conhecendo a realidade demográfica do século XX e XXI resulta de imediato a comparação com Alpalhão
Que sempre teve mais habitantes que Montalvão. No I Recenseamento Geral da População (1864) mais 396 pessoas na freguesia: 1 769 habitantes na de Alpalhão e 1 373 montalvanenses/salavessenses. O que comprova que em cinco séculos houve dinâmicas resultantes de realidades distintas que permitiram às localidades - as pessoas que nelas viviam - adaptarem-se às necessidades de cada momento e tempo. A Amieira tem um número, igualmente elevado, em 1527, tendo em conta a realidade dos séculos XX e XXI: em 1864, a freguesia da Amieira (de que Vila Flor fazia parte) tinha 1 241 habitantes, ou seja, menos 132 habitantes que a freguesia de Montalvão.
As barcas como único meio de atravessar o rio Tejo entre as duas margens
A importância de usufruírem das melhores condições para possibilitar a travessia do rio Tejo da Beira para o Alentejo e deste para a Beira é um dos fatores, entre outros, que explica o crescimento demográfico da Amieira e Montalvão. Dois lugares de travessia, as mais fiáveis e com mais dias no ano em que era possível as barcas funcionarem, a da Amieira e a de Montalvão, entre a foz do rio Zêzere e a do rio Pônsul ou Ponsul.
O "Numeramento de 1527" iniciou-se do Sul para o Norte
Com registo de moradores e descrição dos termos em 116 povoados, desde Évora (com 3 601) a Meadas (com zero). Montalvão (com 181) é a 64.ª entre Colos, Odemira (183) e Garvão, Ourique (174).
Tratando-se de uma contagem de localidades entre o rio Tejo e o rio Guadiana inclui povoações da margem esquerda do rio Tejo, não só do Alentejo, como as que mais tarde foram integradas no Ribatejo (a maior parte no distrito de Santarém além do concelho da Ponte de Sor que pertence ao de Portalegre e foi integrado, no início do século XX, no Ribatejo) e na Estremadura (primeiro no distrito de Lisboa de depois, em 22 de dezembro de 1926, no de Setúbal).
O território montalvanense com número elevado de pessoas (moradores) habitando fora do núcleo principal: Montalvão
Tal deve-se, certamente, à existência da Salavessa que sempre foi um lugar com um número elevado de habitantes. Em 1527, os 28 moradores (126 habitantes) não seriam todos da Salavessa, mas grande parte eram da Salavessa. Sabe-se que, 231 anos depois, em 1758, havia mais quatro núcleos urbanos, além da Salavessa: Monte do Rollo, Monte de Amaro Fernandes, Monte do Pégo do Bispo e Monte do Pombo (este apenas em meados do século XX ficaria desertificado).
Do século XVI (1527) para o século XVIII (1758)
Aquando do inventário para avaliar os danos causados pelo terramoto de 1 de novembro de 1755, da Corte em Lisboa, foi enviado um inquérito aos párocos de todo o País, aproveitando para saber de cada paróquia - povoações e territórios - as características geográficas, demográficas, históricas, económicas, religiosas e administrativas. O aviso (perguntas) data de 18 de janeiro de 1758, assinado pelo Secretário de Estado dos Negócios Interiores do Reino (equivalente ao atual primeiro ministro), Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro «Marquês de Pombal» em 1769 depois de ser «Conde de Oeiras», em 1759. A resposta de Montalvão surge em 24 de abril de 1758, pelo Vigário Frei António Nunes Pestana de Mendonça.
A pergunta é:
5. Se tem termo seo: que lugares, ou aldeas comprehende, como se chamaõ: e quantos visinhos tem?
A resposta foi:
5. = Tem, e comprehende em si esta freguesia, cinco lugares a que vulgarmente se chama Montes - a saber Monte do Pombo que tem trese fógos e trinta e três pessoas de confiçaõ e comunhaõ; dezassete pessoas menores - Monte do Amaro Fernandes, que tem três fógos e sete pessoas de confiçaõ e comunhaõ, e dois menores - Monte do Rollo, que tem dois fógos, e cinco pessoas de confiçaõ e comunhaõ, e um menor - Monte da Salavessa, que tem trinta fógos e setenta e duas pessoas de confiçaõ e comunhaõ, e quinze menores - Monte do Pégo do Bispo tem três fógos e oito pessoas de confiçaõ e comunhaõ, com declaraçaõ que estes numeros de pessoas já vaõ inclusos no numero descrito.
Do XVIII (1758) para o século século XVI (1527)
Em 1257, Montalvão (povoado) tinha 153 moradores (689 habitantes) o que ilustra, na perfeição, como Montalvão tem sido motivo de estudo pois é - sempre foi - um núcleo compacto com dimensão elevada, numa estrutura urbana simples, ocupando o topo de uma elevação - dando-lhe uma forma retangular (três arruamentos longos: um principal - rua do Outeiro, Direita, do Cabo e Corredoura; e dois adjacentes: rua de São Pedro, a Sul, e rua das Traseiras/Cabine, a Norte) - que domina um vasto território.
Territórios do "Mestrado de Cristo" que substituiu a "Ordem dos Templários" quando esta foi obrigada a ser extinta, no Reinado de Dom Dinis
Embora Amieira e Tolosa (dos povoados que atualmente integram o concelho de Nisa) fizessem parte do "Priorado do Crato" que sucedeu à "Ordem do Hospital". Curiosamente ou talvez não, Vila Flor e Arez que estariam a sul da ribeira de Figueiró (delimitação entre o território dos Templários e dos Hospitalários) faziam parte dos povoados e termos da "Ordem do Templo". Alpalhão também se localiza a sul da ribeira de Figueiró, mas tendo esta pouco caudal a montante a divisão territorial era na cumeada entre a ribeira do Sor e a de Figueiró.
Como se procedeu às contagens (demográficas e de distâncias) no «Numeramento de 1527»
A Demografia foi calculada com base no número de habitações e informações dos párocos locais. Muitos dos caminhantes que fizeram os numeramentos eram analfabetos. A ajuda dos párocos locais foi fundamental, pois conheciam a sua paróquia, além de serem alfabetizados. Os caminhantes responsáveis pelo "Numeramento" deparavam-se, quase sempre, com os povoados rurais tendo poucas pessoas, pois sendo a atividade agrícola dominante, os seus habitantes encontravam-se a trabalhar nos campos circundantes. Contavam-se as casas do aglomerado principal, pediam-se informações aos párocos acerca de quantas estavam habitadas - no século XVI eram quase todas - e quantas famílias viviam em habitações fora do núcleo principal ("casas apartadas"). Estava definido o número de moradores (famílias) que era o que interessava para o Reino. O número aproximado de pessoas (daí decidir-se multiplicar o número de moradores por 4,5 - número médio de pessoas em cada família ou habitação) só surgiu quando houve interesse, no século XIX, em comparar com o número de habitantes obtido através dos "Recenseamentos Gerais da População.
Mais complexo foi calcular as distâncias
Os caminhantes (mensageiros assalariados e almocreves) no século XVI mediam as distâncias pela "passada" pois só mais tarde, já com influência dos demógrafos franceses foram munidos com uma roda ou aro que tendo uma medida a cada volta completa permitia contar depois o número de voltas multiplicando pela medida da circunferência da roda ou aro. A "passada" estava definida, tendo elementos experientes a saber dar essas "passadas" para que as distâncias fossem, o mais aproximadas possível das distâncias reais. Quando se conseguiu medir com mais exatidão as distâncias comparando-as com a informação obtida, em 1527, observou-se que as medidas estavam mais aproximadas entre povoados mais distantes que entre povoações mais próximas. As distâncias mais longas obrigavam a um ritmo mais lento, com mais paragens para descanso e abastecimento de água, por caminhos menos conhecidos havendo menor indicação de rumo por haver menos contactos com habitantes locais. Entende-se que tal aconteceu porque entre povoados mais aproximados os caminhantes, que fizeram o «Numeramento», deparavam-se, acompanhando ou cruzando-se, com pessoas que também se deslocavam, acabando por haver "alguma distração" no ritmo da "passada" que tenderia a ser mais longa que a norma. Os caminhantes faziam oito léguas por jornada: quatro léguas de manhã, descansavam para almoçar e fazer a "sesta", fazendo mais quatro léguas pela tarde, a menos que tivessem de parar para contar as casas e contactar o pároco local. Nem sempre pernoitavam num povoado, mas muitas vezes a meio da caminhada entre localidades. Enquanto, nos percursos curtos, a légua tem, quase sempre, mais de seis quilómetros, nos percursos longos, com seis ou mais léguas, esta é de seis quilómetros ou mesmo inferior.
O «Numeramento de 1527» para as restantes seis localidades que atualmente integram o concelho de Nisa
Com destaque para a maior (Nisa, com 1 571 habitantes, mais 756 que os 815 montalvanenses/salavessenses) até Vila Flor, com 225 habitantes, junto a Amieira, atualmente com meia dúzia de pessoas, mas em 1527 com mais população que Arez (198) e Tolosa (189).
O registo para Meadas e Póvoa, em 1527, localidades consideradas "Vilas" mais próximas de Montalvão
Com "As Meadas" já sem população e "Póvoa" com 63 fogos, ou seja, 284 habitantes, equivalendo os fogos a moradores. Aquando da Reforma Administrativa de Mouzinho da Silveira (natural de Castelo de Vide) - Lei de 25 de abril de 1835 - seguida da Reforma de Passos Manuel - Decreto de 6 de novembro de 1836 - com a redução do número de concelhos, enquanto o de Montalvão seria integrado, como freguesia, no concelho de Nisa, o território de Póvoa e Meadas foi integrado no concelho de Castelo de Vide. Portugal passou de 806 concelhos (em 1827) para 290 (em 1878) ou seja, diminuiu 516 concelhos, em 51 anos. A redução drástica ocorreu nos 15 anos iniciais desse período, entre 1827 e 1842, com uma diminuição de 425 concelhos, de 806 para 381.
Entre 1527 e o século XIX o número de habitantes foi crescendo
Havendo registos para 1662 (1 080), 1708 (1 240), 1775 (948 apenas o povoado de Montalvão), 1758 (1 015) e 1797 (1 284).
Quase há 500 anos... Montalvão com 815 tinha quase tantos habitantes como, em 1991, com 832 depois de ter cerca de 3 000 em meados dos Anos 40.
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