O CARVALHO ERA A ÁRVORE-ESCASSA DOS MONTALVANENSES.
Planta magnífica em robustez (as árvores morrem de pé) foi importante para os montalvanenses durante séculos.
Desenvolveu-se no território atual da freguesia de Montalvão muito antes deste existir como povoado - até mesmo haver atividade pré-histórica - pois é uma espécie autóctone. O espaço que constitui a freguesia montalvanense tinha condições naturais - solos formados a partir de rochas metamórficas de xisto («canchos» em montalvanês) e intrusões magmáticas em filões de grauvaques («ponedros» em montalvanês) e clima (humidade e temperatura) - que foram propícias a que evoluíssem umas espécies em detrimento de outras. De todos os "Quercus" é o mais exigente em humidade (menos tolerante à secura) e solos (mais granito e calcário que xisto). Com exigências "intermédias" tem dificuldade em competir com espécies que toleram bem a humidade, mesmo a do litoral (pinheiro-manso) e com as que toleram bem a secura (azinheiras, amendoeiras e alfarrobeiras)
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Adaptação do portal "Brigada da Floresta" (clicar) e "Guia Ilustrado de 25 árvores de Lisboa" (clicar) |
Com a comercialização de madeiras da América do Sul (Brasil) e África (depois do Descobrimento da América, por Cristóvão Colombo, em 12 de outubro de 1492 e da exploração do Continente Africano, após a independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822) o Montado de Carvalho sofreu uma grande redução mas ainda é possível observar algumas dezenas de carvalhos-cerquinho pelo vasto território montalvanense. Muito menos que as Oliveiras, Sobreiros e Azinheiras mas mesmo assim ainda será a quinta árvore (superada, também, pela Figueira) mais representada na freguesia. A sua redução - nos Anos 60 eram apenas cerca de 200 exemplares numa área com o equivalente a 13 mil campos de "Futebol de Onze" - deverá estar muito reduzida, talvez a pouco mais de 20/30 exemplares, quase todas nas "Barreiras do Rio", ou seja, nos vales dos afluentes do rio Sever, em particular nos declives da ribeira de São João onde era possível ver alguns carvalhos-cerquinho, até mesmo, carvalhos-negral. Estas duas espécies são muito mais abundantes no concelho de Castelo de Vide, logo a partir na freguesia mais a norte desse concelho, a de Póvoa e Meadas. Em Montalvão os carvalhos têm um porte tão pequeno que se assemelham a arbustos.
O Carvalho foi trave-mestra dos montalvanenses.
1. A sua sombra e proteção todo o ano, com destaque para a frescura do Verão (a melhor dos "Quercus" existentes em Montalvão) pois a folha é persistente renovando-se pela idade e não pela estação do ano;
2. A madeira é de boa qualidade com um tronco mais esguio e regular que os restantes «Quercus». Antes da introdução do Eucalipto (originário da Oceania, essencialmente Austrália, do clima sub-tropical seco do Hemisfério Sul) por isso adaptou-se bem ao clima Mediterrânico que é sub-tropical seco do Hemisfério Norte, a madeira de carvalho era utilizada para fazer traves que suportavam os sobrados (em construções de pedra com telhados de telha-cana e escadas);
3. Os frutos (glande) são fonte de alimento para o gado porcino (porcos e javalis) embora com menos valor que a da azinheira, mas semelhante, à do sobreiro, embora este dê muito mais lande, por ter maior copa;
4. As folhas (glande) as mais "macias" dos «Quercus» também foram fonte de alimento para o gado porcino (porcos e javalis) e caprino.
Este blogue irá acompanhar o "Ciclo do Carvalho" com quatro publicações por ano, utilizando um nobre carvalho de Póvoa e Meadas.
A. Verão - Início da frutificação e crescimento da bolota (publicado em 30 de agosto de 2019);
Há ainda os Bugalhos desenvolvidos no carvalho-negral, por exemplo, que são a reacção da planta à agressão de um insecto (vespa) quando pica os pequenos ramos para fazer a sua reprodução.
Os bugalhos eram os berlindes dos jovens montalvanenses antes da invenção dos "pirolitos".
Estes bugalhos foram surripiados de um carvalho existente na "Barragem da Póvoa".
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Adaptação do portal "Brigada da Floresta" (clicar) |
B. Outono - Amadurecimento e apanha da bolota (publicado em 26 de dezembro de 2019);
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As bolotas dos carvalhos - tal como a dos sobreiros - são muito mais pequenas que as das azinheiras. Em Montalvão, os carvalhos são uma raridade. Já os Sobreiros, não! As bolotas (carvalhos e sobreiros) são tão pequenas que nem bolotas são. Não passam de Lande, para se distinguirem das Bolotas (azinheiras). A Lande só para consumo dos porcos. Já as das azinheiras, de subespécies, em que sejam adocicadas são um acepipe de alto gabarito |
C. Inverno - Inflorescências e floramentos que polinizados darão os frutos do novo ano. As folhas tenras e comestíveis que cresceram nos últimos meses desde que os dias têm também crescido, ou seja, desde o Solstício de Inverno (publicado em 17 de março de 2020);
D. Primavera - Os pequenas e verdes frutos a crescerem (a publicar em 15 de abril de 2020). Ficando em definitivo como texto permanente neste blogue.
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Garrafas "pirolitos" comercializadas até aos Anos 60 |
Uma homenagem à Árvore que deu qualidade de vida a milhares de montalvanenses durante 700 anos.
Próxima paragem, num dia destes, no Futuro próximo. O Sobreiro: a árvore-virtuosa.